Uma iniciativa garante moradia gratuita para quem tem entre 18 e 21 anos, mas há apenas uma casa com este perfil no Rio.
A ansiedade de completar 18 anos para quem vive em abrigos Todo mês, um abrigo para adolescentes na Zona Oeste do Rio de Janeiro encomenda um bolo para os aniversariantes do perÃodo.
Em julho, foram dois.
Um para os 18 anos de Mattheo e outro - rosa e azul - para o chá revelação do sexo do bebê de Diovana, de 17 anos, grávida de cinco meses.
Diovana ainda comemora mais um aniversário na casa, mas no caso de Mattheo, este foi o último.
Por lei, adolescentes em situação de acolhimento devem deixar os abrigos onde moram quando chegam à maioridade.
Com o pai preso e a mãe falecida, só restaria a Mattheo ir morar com os tios, mas a relação entre eles não é boa.
"Eu sai da casa da minha madrinha porque ela sempre deixou claro que não queria que eu voltasse a morar lá.
Meu tio também.
Foi ele que me entregou para o abrigo", conta Mattheo. A ansiedade de completar 18 anos para quem vive em abrigos Reprodução/TV Globo Expulso do abrigo por força da lei, ele acabou alugando um kitnet humilde em um casarão em Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro.
O aluguel de R$ 350 ele paga com o bolsa famÃlia e um auxÃlio que recebe como jovem aprendiz.
No fim do ano, o auxilio acaba e ele ainda não sabe como vai pagar as contas. Mattheo poderia estar morando em uma república para jovens, uma iniciativa que garante moradia gratuita para quem tem entre 18 e 21 anos, mas há apenas uma casa com este perfil no Rio.
Uma resolução de 2009 do Conselho Nacional de Assistência Social prevê a criação de repúblicas para jovens após o desligamento de serviços de acolhimento. A ansiedade de completar 18 anos para quem vive em abrigos Reprodução/TV Globo O Juiz Sérgio Ribeiro lamenta a falta de repúblicas no Brasil e explica a importância delas para jovens que viveram em abrigos: "A autonomia deles continua sendo trabalhada e eles têm um apoio para poderem se solidificarem e caminharem com as próprias pernas", diz. Em nota, a Secretária de Assistência Social do Rio de Janeiro afirmou que há um chamamento em aberto para ampliar o serviço em novas duas repúblicas e que indivÃduos em situação de vulnerabilidade podem ser acolhidos em Unidades de Reinserção Social, que acolhem crianças, adultos e idosos. Adoção de adolescentes no Brasil: entenda como funciona o processo e quais os desafios O caso de Diovana é mais dramático, já que ela vai sair do abrigo com uma criança no colo e o homem que ela afirma ser o pai da criança não reconhece a paternidade.
Além disso, ela não pretende se mudar para a casa de parentes.
Em dezembro o bebê nasce e em maio ela completa 18 anos e vai precisar sair da casa com a criança. A gravidez na adolescência é tão comum entre as moradoras do abrigo que Tania Regina, assistente social da casa, mantém um cantinho com brinquedos para bebês e crianças pequenas.
Enquanto não completam 18 anos, as adolescentes podem viver no abrigo com seus filhos. Carlos Roberto Laudelino, coordenador do abrigo, explica que mães grávidas e com bebês de colo podem chegar a qualquer momento no abrigo.
"Chega às vezes de madrugada, adolescente com bebê, chega da delegacia, ameaçada, teve que sair correndo.
Então a gente já deixa uma estrutura pronta aqui", diz Carlos. Para o chá revelação, Tânia preparou bolas de festa recheadas de confete colorido.
As primeiras bolas eram só para enganar Diovana.
A adolescente as estourava, mas os papeis roxo e laranja não definiam o sexo.
Apenas na nona bola surgiu glitter rosa, revelando que Diovana vai ser mãe da Ayla.
Era o que ela queria. A ansiedade de completar 18 anos para quem vive em abrigos Reprodução/TV Globo LEIA TAMBÉM: O que acontece com os jovens que não são adotados até os 18 anos? Entenda As histórias de adotados que escolhem adotar: 'Fui deixado pela minha mãe aos 3 anos' Confira as últimas reportagens do Profissão Repórter: